Não, o titulo deste artigo não diz respeito ao período eleitoral que
estamos vivendo, apesar de, em alguns momentos, parecer mesmo que a eleição é
uma guerra. Este artigo é sobre o combate que aconteceu aqui em Rio Branco cujo
término completa 110 ano, nesta segunda-feira, 15 de outubro.
As primeiras chuvas de outubro chegaram, como
chegam todos os anos às margens dos rios acreanos, e encontraram uma terra
varrida por tempos de guerra. A ameaça do domínio estrangeiro agora era uma realidade.
O sangue tingia as águas que anunciavam o inicio do inverno amazônico. Na
cidade, que mais tarde seria conhecida como Rio Branco, a população assistia
atemorizada ao primeiro grande combate do exército formado por centenas de
seringueiros e o resultado deste combate poderia determinar os rumos da guerra.
15 de outubro de 1902. Fazia 11 dias desde que começaram as lutas na
Volta da Empresa. Agora, não se tratava mais de simples emboscadas nos
varadouros e barrancos do Acre. Dessa vez era guerra de verdade. Os militares
bolivianos haviam derrotado, pouco menos de um mês antes, os mal armados e mal
treinados seringueiros que, comandados por Plácido de Castro, se constituíam
ainda num arremedo de exército. Com isso, a Volta da Empresa (Rio Branco) se tornou
domínio boliviano e junto com Puerto Alonso (Porto Acre) passara a se
constituir numa de suas praças fortes.
Vila Rio Branco (atual 2º Distrito), pouco depois da Revolução,
próximo à Gameleira onde aconteceu o combate.
Era preciso reagir logo uma vez que a notícia da derrota havia se
espalhado rapidamente pelos rios acreanos e poderia levar seringalistas e seringueiros
à desmobilização, pondo fim a Revolução. Por isso, o comando revolucionário do
exército acreano, reunindo cerca de trezentos homens, decidiu atacar o inimigo
ainda no dia 05 de outubro.
A inferioridade numérica dos bolivianos, que não passavam de 180, era
compensada pela presença de extensas trincheiras e pelo alambrado que protegiam
o acampamento principal boliviano. Isso tornou a luta muito penosa. Os acreanos
não podiam atacar diretamente as fortificações, sob pena de serem
fragorosamente derrotados. A única forma de conquistar as trincheiras inimigas
seria escavando trincheiras que em zigue-zague, lentamente se aproximavam das
posições bolivianas.
Foram dias terríveis para ambos os lados em luta. Os mortos que
tombavam nas trincheiras não podiam ser removidos por causa das balas que a
todo o momento cortavam o ar pesado do campo de batalha. Logo a decomposição
dos corpos tornou a permanência dentro das trincheiras, meio alagadas pela
chuva, insuportável.
Sede do Seringal Empreza (atual 1º Distrito)
que serviu como hospital de sangue do combate.
Porém, a cada dia, a vitória acreana ficava mais evidente. O grande
temor boliviano era de que o boato que circulava nas linhas de combate fosse
verdadeiro. Dizia-se que os acreanos, cujas posições estavam a apenas seis
metros da ultima linha de trincheiras bolivianas estavam prestes a executar o
ataque final, onde não utilizariam armas de fogo, mas tão somente armas
brancas. E não havia boliviano que não conhecesse a terrível fama dos punhais
dos cearenses, que eram manejados com extrema destreza e, em tempos de guerra,
crueldade.
Diante disso tudo, no dia 15 de outubro, o Coronel Rozendo Rojas,
comandante das forças bolivianas, finalmente se decidiu pela rendição. Assim, a
velha Volta da Empresa, hoje Rio Branco, voltou a pertencer aos acreanos e a
primeira grande vitória do exército revolucionário encheu de coragem e esperança
o coração daqueles homens que somente queriam o direito de ser o que eram...
brasileiros.
Texto publicado no jornal “O
Estado do Acre”, série “O Acre é Cem”, 15 de outubro de 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário