Nesse contexto
começaram a ser formados novos conjuntos musicais melhor estruturados,
superando a prática muito espontânea, mas pouco organizada dos conjuntos de pau
e corda. Eram os conjuntos “modernos” ou “eletrônicos”, como foram
classificados por Sandoval do Anjos em sua “História da Musica”, por incorporar
instrumentos elétricos como guitarras e baixos.
O “Bossa-ritmo”
foi o primeiro desses conjuntos que, formado em meados da década de 60, tinha a
preocupação central de renovar a musica que se tocava nos clubes, através da
incorporação do movimento bossanovista, dos Beatles e da Jovem Guarda. Até
mesmo alguns integrantes da “Furiosa” (como também era chamada a Banda da Guarda
Territorial) adaptaram-se à nova situação, como Elias Ribeiro, o Mestre Elias,
que formou com seus filhos o “Quinteto de Ouro”, que possuía um repertório de
sambas e chorinhos. Aliás, o caráter familiar dos conjuntos “modernos” foi uma
característica marcante do movimento musical desse período. O Bossa-ritmo, que
obteve grande sucesso nos bailes promovidos nos salões do Rio Branco Futebol
Clube, foi desfeito devido à saída dos irmãos Mansour para a formação do
conjunto “Os Bárbaros”, que a partir de 1966 animava as noites do Juventus.
Logo a seguir surgiu ainda outro conjunto de grande importância na época: eram
“Os Mugs”.
O Bossa Ritmo
O novo movimento
musical de Rio Branco passou então a ser dominado pelos “Os Bárbaros” e “Os
Mugs” que dando vazão às necessidades musicais dos filhos da classe média
urbana que os comparavam aos “Beatles” e aos “Roling Stones” e frequentavam os
bailes do Juventus e do Rio Branco, bem como os jogos de futebol entre os
mesmos dois clubes. Depois disso a Banda da Guarda nunca mais recuperaria a
mesma pujança social que tivera outrora, embora continuasse a existir e a atuar
em Rio Branco e no interior.
A segunda metade
da década de 60, portanto, possibilitou a reunião de todos os elementos
necessários para promover uma verdadeira revolução musical no Acre.
Mais do que
nunca a ligação do Acre com o Rio de Janeiro viu-se fortalecida. Foi Chico Pop
quem nos mostrou a incrível rapidez com que as coisas aconteciam no Rio de
Janeiro e já se ficava sabendo no Acre. A Bossa Nova de Vinicius de Morais, Tom
Jobim e Nara Leão já havia sido então firmemente incorporada nas apresentações
de João Donato na Tentâmen, onde ele tinha a ousadia de tocar arranjos
complexos e jazzisticos no acordeon, revelando todo o talento que mais tarde
garantiriam para ele um papel de destaque no panorama musical brasileiro e
internacional. Os programas de calouros das rádios continuavam sendo irradiados
ao vivo, nas manhãs de domingo, para todo o Acre, enquanto que “Os Bárbaros” e
“Os Mugs” davam maior vitalidade aos bailes do clubes através da radical
modificação do repertório tocado nessas ocasiões. Esses fatores, impulsionados
pelas novas tendências musicais surgidas no Brasil e no mundo e divulgadas
através dos famosos festivais da TV Excelsior, Record e Tupi, conduziam os
jovens músicos por caminhos nunca antes trilhados: a jovem guarda, a musica de
protesto provocada pelo golpe militar de 64 e o tropicalismo.
A consequência
mais imediata e evidente de toda essa movimentação foi a realização, em 1969,
do primeiro festival de Rio Branco. Este antológico festival, organizado pelo
jornalista Elzo Rodrigues, realizou-se no Cine Rio Branco e foi disputado por
nada menos que 162 musicas, demonstrando o tamanho de sua repercussão.
Memorável, inclusive por isso, o festival acabou em uma grande confusão
provocada pela controvérsia que cercou a musica vencedora, já que a preferida
do público (leia-se a moçada do Juventus) era a musica de Chico Pop e seu
irmão, defendida por uma parte do conjunto “Os Bárbaros”. Essa musica chamada
“Do Mundo vou falar” era claramente inspirada pelo sucesso da musica de
protesto de Geraldo Vandré “Pra não dizer que não falei das flores” e possuía
muito mais apelo à juventude do que o samba-canção de Crescêncio. Mas, se até
os festivais do Rio de Janeiro acabavam em confusão e controvérsia, porque
teria de ser diferente no Acre?
Apesar da enorme
repercussão desse primeiro festival, durante a década de 70 não houve outros
festivais de maior expressão. A exceção foi o Festival do CESEME de 1976, que por
falta de continuidade não trouxe maiores consequências. Por outro lado, a força
com que as informações e as novas tendências afluíam para o Acre, trouxeram a
moda das discotecas, das danças que deixavam “o corpo lindo, leve e solto” e
marcaram um refluxo no crescimento da MPB. A juventude passou então a estar
mais interessada nos bailes sob luz negra, no John Travolta, no “Dancing Days”
e na musica do “Disco”.
Os Bárbaros
Ainda assim, nos
anos 70, a produção musical acreana manteve-se através da atividade dos conjuntos
“Os Bárbaros”, “Os Mugs” e outros que foram sendo criados, como “Os Signos”.
Esses conjuntos continuavam apresentando-se nos clubes Rio Branco, Juventus e
Atlético Acreano; bem como, em cidades do interior acreano e até fora do Acre,
em cidades como Porto Velho, Manaus e Cuiabá. É claro que nesse momento ocorreu
uma certa modificação no repertório, os conjuntos passaram a enfatizar
principalmente as musicas da “Jovem Guarda”, do “Eduardo Araújo” e do “Renato e
seus Blues Caps”. Aliás, “Os Bárbaros” ainda chegou a gravar um compacto em
Manaus, no que foi logo seguido pelo “Os Mugs”, mantendo acesa a disputa que
existia entre os dois grupos.
Portanto, a década
de 70 foi marcada por certa continuidade de muitos dos eventos que já vinham
acontecendo. Exemplo disso eram os programas de auditório do Cine Rio Branco
que mantinham um bom nível de popularidade e continuavam atraindo artistas
iniciantes do interior do Acre.
Mas, nos anos
70, aconteceram algumas novidades também. Uma delas foi o surgimento das Escolas
de Samba em Rio Branco. Motivados pela importância crescente dos desfiles das
Escolas de Samba do Rio de Janeiro, alguns dos blocos carnavalescos formados
nos bairros da cidade tornaram-se Escolas de Samba. Tanto que já em 1972
começaram a ocorrer acirradas disputas entre a Escola de Samba Unidos da Cadeia
Velha, sob o comando de João Aguiar, que tinha chegado a pouco do Rio, e a
Escola de Samba Unidos do Bairro Quinze, comandada pelo baiano-carioca
Santinho. As disputas, cujo palco principal era a Avenida Getúlio Vargas,
durante as festas de Momo, estendiam-se às rádios que executavam as músicas de
cada uma das escolas e movimentavam o panorama cultural de Rio Branco.
*Texto publicado
originalmente na Revista Registro Musical, FGB, 1996
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