A influencia das rádios, a chegada de novos músicos ao Acre, os
populares programas de calouros, os carnavais e novas influencias musicais como
o Jazz e logo a Bossa Nova, aos poucos começaram a provocar, nos final dos 40 e
nos anos 50, uma nova transformação na música que estava sendo feita e ouvida
por aqui.
Mesmo com as
mudanças porque passava a música no Acre, a Banda da Guarda Territorial (como
passou a ser denominada a partir de 1945) continuava suas atividades, atendendo
aos interesses da elite, e ainda dominando o cenário musical de Rio Branco.
Aliás, esta cidade, já há tantos anos capital do Território Federal do Acre,
acabava por ser um ponto de forte atração para músicos de diversas cidades e
seringais do interior acreano que para lá afluíam atrás de melhores
oportunidades de viver de sua arte. Tanto é assim que a composição da Banda
nessa época revela a presença de músicos e compositores vindos de diversos
municípios acreanos.
Estavam nesse pé
os acontecimentos quando Garibaldi Brasil, integrante do governo de Amilcar
Dutra de Menezes, no início da década de 50, foi até Belém trazer novos músicos
que dessem um maior impulso a música acreana. Logo chegavam ao Acre Raimundo
Neves acompanhado por Sandoval dos Anjos, Elias Ribeiro Alves e Mário do Carmo
Pires. Eles integravam um conjunto de jazz de Belém e deveriam formar a
Jazz-orquestra da Rádio Difusora Acreana para dinamizar sua programação
musical. Porém, não demorou muito para que o comando da Banda da Guarda
Territorial, que era do Mestre Holdernes, fosse passado para o Maestro Neves
(como viria a ser chamado mais tarde) que promoveu certa renovação do
repertório da Banda com foxes, rumbas, mambos e músicas brasileiras como a
“Aquarela do Brasil”, “Carinhoso”, etc.
Havia, assim, no
Acre dos anos 50 uma nova realidade musical. Os carnavais, que sempre haviam
tido presença importante na cultura acreana, ganhavam cada vez mais as ruas com
a multiplicação dos blocos de sujo que nasciam em bairros como a Cadeia Velha,
o Quinze e a Capoeira e assumiam a cidade durante a “Quina Momesca”. Nos
assaltos carnavalescos os músicos, acompanhados por grande numero de foliões, à
semelhança do que era feito nas alvoradas, invadiam as residências durante todo
o mês que antecedia o carnaval. Nos clubes, especialmente no Rio Branco e na
Tentâmen, também brincava-se animadamente ao som dos músicos da Banda
transformados circunstancialmente em músicos carnavalescos.
As novidades que
vinham através do rádio, com seus ídolos de popularidade crescente, traziam um
novo elemento fundamental nas mudanças porque passava o cenário musical
brasileiro e agora também o acreano: os programas de auditório e de calouros.
Este tipo de programa característico da rádio brasileira chegou rapidamente ao
Acre. Surgiram assim os programas de calouros da Radio Difusora e um pouco
depois os da Rádio Andirá, ambos em Rio Branco. Mas as cidades do interior não
ficaram para trás e criaram seus próprios programas de calouros nos colégios,
clubes e rádios locais (ver biografias de Geraldo Leite e Franco Silva).
Esses programas
marcaram época por sua imensa popularidade. Os programas de calouros eram
semanais e - fossem os promovidos pela Rádio Difusora na Tentâmen ou em seu
próprio auditório, fossem aqueles realizados pela Andirá, ao ar livre - sempre
eram presenciados por grande numero de animados espectadores que motivavam o
surgimento de novos talentos e valores artísticos. Zé Lopes, Índio do Brasil e
Natal de Brito eram alguns dos que apresentavam os concursos para músicos,
cantores, locutores e atores, com pequenas premiações para os vencedores e a
colaboração de alguns dos mais importantes músicos da Banda como jurados
(Maestro Neves, Sandoval, etc.). Isso aumentou ainda mais a afluência para Rio Branco
de músicos e artistas do interior que vinham se apresentar nos programas de
calouros da Capital. No dizer de Crescêncio, “foram pelo menos 10 anos de
extraordinária atividade da rádio, que durou pelo menos até quando o Acre foi
transformado em Estado, em 1962”.
O movimento de
renovação proporcionado pelos programas de calouros, tornou a Banda da Guarda
Territorial pequena para abrigar o novo contingente de músicos, tanto por seus
aspectos quantitativos, quanto pelas características qualitativas desse
movimento musical. É verdade que a Banda procurava adaptar-se aos novos tempos,
especializando diversos de seus segmentos de acordo com gêneros musicais
distintos. Ou seja, dentro da Banda da Guarda, existia um grupo menor
especializado em choros, outro em valsas e assim por diante. Por outro lado,
esses mesmos músicos da banda possuíam atividades musicais diversas,
especialmente aquelas destinadas ao ensino da musica e à formação de conjuntos
para tocar um repertório não desenvolvido pela Banda. Exemplo disso foi Zeca
Torres grande que criou ainda no início da década de 50, dois conjuntos de jazz
chamados simplesmente Jazz-A e Jazz-B.
Porém, por mais
que o repertório e a técnica instrumental da Banda da Guarda Territorial fossem
continuamente aprimorados, sua função social ainda permanecia a mesma: a
ingerência do poder instituído sobre a cultura de massas. Isso limitava
fortemente a diversificação das atividades da Banda.
Em contraposição
a isso o Brasil exportava (e ainda exporta) músicas, melodias e ritmos de
qualidade igual ou superior a de qualquer outro país do mundo consumista com
sua mídia globalizada. Ou seja, em termos musicais, pelo menos nesses termos,
somos o “primeiro mundo”. Com a vantagem de exercermos esse papel através da
linguagem universal dos povos, a música. Afinal de contas, não há quem não
compreenda a “cadência bonita do samba”.
E o Acre? Este
pedaço preterido do mundo. Espaço perdido e atraente para muitos dos novos
músicos do interior. Para tanto, colaborava ainda mais o contexto musical
brasileiro e mundial em franca ebulição na passagem dos anos 50 para os 60. A
nova geração de músicos acreanos queria tocar o samba, a musica popular e as
ultimas novidades: a bossa-nova e o rock’n roll, sem ter que restringir-se
somente às valsas, marchas e dobrados.
*Texto publicado
originalmente na Revista Registro Musical, FGB, 1996 (Ilustrações de Danilo de S'Acre)
Marcos,
ResponderExcluiresta tua sequência de artigos sobre a história da música no Acre é formidável.
Muito obrigado!
Abraços!
Valeu Isaac, só temo q as pessoas no geral não gostem destes textos muito longos... Mesmo assim vamos sobrevivendo... com apenas alguns arranhões... rsrsrsrs... abs
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