terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre o que é secreto na coisa pública

(Res publica)

Há pouco mais de um mês atrás publiquei nesta coluna o artigo chamado “O poder do pequeno (ou segredos de polichinelo...)” sobre a liberação dos chamados documentos secretos que são guardados pelo governo brasileiro em “sigilo eterno”. Infelizmente, no momento em que tudo parecia estar resolvido, novo retrocesso mantém o tema na ordem do dia.

Já que os jornais, sites e TVs desse país divulgaram massivamente, durante toda a semana, o imbróglio armado em relação aos tais documentos secretos, não vou explicar nada, vou direto ao que interessa agora:
Se documentos - sobre a Guerra do Paraguai, sobre a Questão do Acre, sobre os porões da ditadura, entre outros momentos mais ou menos obscuros de nossa história - são secretos, sempre foram, não há como saber se há, de fato, razão para mantê-los secretos. Por isso a primeira pergunta deve ser. Quem é que diz o que deve continuar secreto ou não na República? O Presidente, o Congresso, o Supremo, diplomatas, generais, um conselho de estado formado por tais e tais instituições “guardiãs da pátria”? Quem decide, afinal, o que é vexatório ou perigoso e não deve ser conhecido sobre a memória nacional e as relações com os países vizinhos?
Acho que vai ser difícil divulgarem algo ainda mais vergonhoso do que tudo que já é sabido, tido e havido como vergonhoso por todo mundo, há muito tempo. Afinal o Brasil já foi tratado durante muito tempo como uma Republica de Bananas, ou, no caso do Acre, como uma Republica de Borracha, lembram?


Só não se pode esconder que manter documentos secretos eternamente, como eles querem é, depois de tê-lo feito com as gerações anteriores, condenar a atual geração de historiadores, cientistas sociais e cidadãos brasileiros a impossibilidade de conhecer o que, de uma forma ou outra, nos fez ser quem somos e estar onde estamos. E ainda querem nos convencer que é um burocrata sem nome, identidade ou responsabilidade coletiva que vai continuar decidindo o que posso e o que não se posso saber sobre meu próprio país? Isso não é só uma ofensa, mas um crime de lesa-pátria de mim, de ti, de nós e de todo mundo. Só ele sabe a verdade, só ele deve continuar sabendo. Mas, desculpa se não consigo entender, a troco de que mesmo?
O certo é que diante de tanta disposição em esconder o que ninguém sabe, acabei ficando mais curioso ainda. A negociação do Acre pelo Barão do Rio Branco deve ter sido muito vergonhosa mesmo pra estarem tão preocupados assim. Deve ter tido coisa grossa por ai... O que será, que será ??!! Diria Chico (o Buarque) diante de tal dilema.
Mas como, infelizmente, não temos acesso aos tais documentos secretos é difícil avaliar, só nos resta imaginar, então. Será que foi pior do que aquilo que fizeram com o Loco Melgarejo, em 1867? Difícil hem!!! Se for o famoso Mapa da Linha verde que o Barão do Rio Branco fez sumir durante as negociações de 1903, não há problema, todo mundo sabe que ele reapareceu depois. Será que é a confirmação do suposto suborno do Presidente Campos Sales pela Casa Rotschield para que ele não se metesse na “Questão do Acre”? Teria o Barão também subornado a quantas e quais autoridades? Ou usado que outros expedientes sujos? Teríamos tido episódios de espionagem, traições e mortes estrategicamente escolhidas e executadas? Rapaz!!! Se parar pra pensar bem, chegamos à conclusão que só imaginar pode ser até mais perigoso.


Vivemos no Acre. Compartilhamos essa fronteira com bolivianos e peruanos todos os dias. Ou já se esqueceram que o presidente boliviano Evo Morales não pensou duas vezes antes de ganhar dinheiro legalizando os carros roubados do Brasil, na semana passada?
Os problemas que afetam nossas fronteiras são atuais e bem conhecidos: trafico de drogas, contrabando, criminalidade, prostituição, exploração indiscriminada de madeira, invasão de áreas de conservação, expropriação de terras e direitos indígenas, migração clandestina, garimpo predatório, etc., etc., etc.
Feridas históricas são apenas isso mesmo, feridas cicatrizadas pelo tempo. A Bolívia perdeu seu litoral para o Chile, todo mundo sabe como aconteceu, e isso não muda nada. O que os bolivianos nos dizem todos os dias aqui na fronteira é que um governante meio louco que tiveram há muito tempo trocou o Acre por um cavalo e duas medalhas de latão. Ou, então, que eles não perderam, mas venderam o Acre para o Brasil. Ou, ainda, que o Acre foi roubado deles porque nós demos calote na indenização que havia sido combinada. Nada que possa estar nos tais documentos secretos vai mudar ou piorar isso.
Alguém teria por aí o contato do Assange do Wikileaks (que eles tanto temem) pra me arrumar e acabar com essa besteira toda?

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