segunda-feira, 14 de março de 2011

História política recente da Ayahuasca (IV)


Marca cultural da Amazônia, impressa no tecido do mundo. Conhecimento antigo, engendrado durante milhares de anos... Presente da floresta à humanidade...

Eis o breviário, o plenário, o calendário, o seminário...
(artigos passados).


Psicotria viridis, foto de Thiago Silva (Blog daflorestadejuramidam.blogspot)





Eis o inventário...
Enquanto aqui no Acre nós seguíamos discutindo os rumos da vida. O IPHAN - a quem coube dar andamento ao pedido feito pelas comunidades tradicionais ao Ministro da Cultura - submeteu todo o farto material bibliográfico que enviamos à sua Câmara Temática do Patrimônio Imaterial. Nosso pedido teria que receber um parecer técnico antes de ser submetido ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, a quem cabe a deliberação pelo registro ou não do “Uso ritual da Ayahuasca” como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
E como era de se supor, já que isso faz parte do “modus operandi” do IPHAN, foi solicitada a realização de um inventário das manifestações culturais ayahuasqueiras para que o processo possa ser corretamente apreciado pelo Conselho. Afinal não se trata apenas de registrar e pronto. É preciso saber o que registrar. A música que permeia todas as diferentes tradições? O feitio do chá, os fardamentos, a rica iconografia e seu inerente simbolismo?
Necessário responder, enfim, quais expressões culturais caracterizam as comunidades ayahuasqueiras. Quais são seus elementos comuns e suas diferenças. Mas, também, em que livro estes bens culturais devem ser registrados? No livro dos lugares, no dos saberes, no das celebrações ou no livro das formas de expressão, como consta da legislação vigente. E uma vez respondido isso tudo, ainda há que se responder quais as salvaguardas necessárias para garantir a proteção, manutenção e a promoção deste patrimônio cultural e que deverão passar a ser obrigações do estado brasileiro. Caso a solicitação seja aprovada, é claro.
Diante dessa infinidade de questões e definições necessárias para o registro da Ayahuasca se torna evidente que a realização do Inventário sobre o uso cultural, ou ritual, da Ayahuasca só é possível a partir de uma ampla e efetiva participação das comunidades ayahuasqueiras, que são as principais interessadas e afetadas por essa ação.



Banisteriopsis caapi, foto de Thiago Silva (Blog daflorestadejuramidam.blogspot)





E, por sua vez, sob a orientação desta participação política, todas as instituições públicas envolvidas no processo terão que desenvolver um claro e inequívoco reconhecimento da enorme diversidade das manifestações culturais relacionadas às praticas e rituais ayahuasqueiros. Compreensão essencial para uma correta e equilibrada identificação das referencias e bens culturais que são relevantes e que terão que ser considerados no registro da Ayahuasca como patrimônio brasileiro.
Portanto, o ponto de partida, que acreditamos também poderá ser o da chegada (tal qual estrada de seringa), passa pela diferenciação dos três grandes campos ayahuasqueiros, através dos quais o inventário deverá ser realizado.

Eis o cenário...
Ainda não se sabe ao certo onde e quando surgiu o conhecimento cultural da Ayahuasca. No mesmo sentido, hoje, não sabemos quantos ayahuasqueiros existem no Brasil. Como discutir sobre algo que nem conhecemos e nem entendemos? Para tentar organizar essa aparente confusão, as instituições responsáveis pela construção da uma pré-proposta de inventário estão trabalhando através da identificação preliminar de três grandes grupos, ou “campos ayahuasqueiros” e da convicção de que o inventário deve ser, em grande medida, orientado e realizado pelas próprias comunidades.



Com isso, estamos buscando compreender a atual realidade, tanto no que diz respeito às praticas rituais diversas, que podem ser milenares, seculares ou muito recentes, como apontar manifestações culturais não religiosas, que têm grande importância e influência, também, sobre a história de muitas comunidades, segmentos sociais e cidadãos brasileiros. Ressaltando que esta é apenas uma proposição de possível recorte de caráter cultural e histórico, ainda impreciso e sujeito à análise e alteração pelas comunidades usuárias da ayahuasca.
1 - O “Campo Originário” da Ayahuasca é o mais antigo de todos. Algumas informações indiretas da arqueologia tentam situar sua origem por volta de 2.000 antes do presente. Mas esses estudos ainda são superficiais e inconclusivos. O fato é que suas práticas se encontram em plena vigência, entre as dezenas de atuais grupos indígenas da Amazônia...

2 comentários:

  1. Com surpresa e certo contentamento no ego, agradeço os créditos das fotos.

    ;-)

    O texto, excelente como costume.

    Agora maninho, sobre a revista? Alguma novidade??

    Reunião na próxima terça, dia 22.

    Grande e saudoso abraço!

    Paz e bem.

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  2. Ainda estamos no aguardo da ALEAC, caso o sinal seja negativo, devemos imprimi-la pela Garibaldi

    abs

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