terça-feira, 1 de março de 2011

História política recente da Ayahuasca (III)

Um movimento em direção ao estado brasileiro que se iniciou lá atrás, em 1991, com a elaboração da primeira Carta de Princípios das comunidades ayahuasqueiras. Um momento apenas, mas longo e profundo como a própria noite dos tempos. Uma ocasião pra não esquecer.





Abertura do Seminário das Comunidades Tradicionais da Ayahuasca realizado no Horto Florestal. (Fonte: Blog do Altino)






Eis o Breviário...
Foram muitas reuniões, mas não conseguimos construir um consenso válido e satisfatório. Estávamos em 2007.

Eis o plenário...
Nesse meio tempo, teve início o fértil processo de construção do Sistema Municipal de Cultura de Rio Branco.

Eis o calendário...
Inesperadamente, a oportunidade. Íamos já pelo meio de 2008. O aviso de que o Ministro da Cultura Gilberto Gil iria visitar mais uma vez o Acre, provocou nova reunião. E a luz se fez... (até aqui trechos dos artigos anteriores).

Eis o seminário...
Mas, como já disse Caetano, “a vida não se resume a festivais”. E, aqui no Acre, as questões do Daime estão relacionadas diretamente a muitas e distintas dimensões da vida social, exigindo dos poderes públicos respostas adequadas e eficazes. Vida real, cotidiano, ruas, casas, praças, escolas, hospitais, repartições, enfim...
Logo as discussões da Câmara Temática explodiram (no bom sentido) para muito além da cultura (em seu sentido tradicional). E começamos a articular a ligação das diversas iniciativas paralelas, que estão em pleno curso, num só movimento.
Ao grupo que vem discutindo nos últimos três anos com o IMAC a questão da regulação ambiental para extração e transporte de cipó e folha, se reuniram profissionais da saúde que seguem lutando para por fim à discriminação de doadores de sangue; além do pessoal da educação preocupado com o fato de nossas escolas continuarem privilegiando manifestações religiosas das maiorias dominantes e tratando com desrespeito e desconhecimento a fé das minorias étnicas ou religiosas do nosso estado. E assim por diante.





Assim surgiu na Câmara Temática a proposta de realizar o “Seminário das Comunidades Tradicionais da Ayahuasca: Construindo Políticas Públicas para o Acre” onde pudéssemos discutir todos os problemas e questões pendentes das comunidades em relação ao Estado e suas políticas públicas. Além, é claro, de avançar com as discussões de viés cultural e político. Um seminário proposto e realizado pelas comunidades ayahuasqueiras de Rio Branco, mas aberto para os povos indígenas, bem como para todos que ali quisessem estar.
E o resultado foi extraordinário. Na sua abertura, mais importante que a presença de diversas autoridades públicas dos poderes executivo, legislativo e judiciário, foi um inédito encontro ecumênico (com participação de representantes católicos, evangélicos e mães-de-santo) organizado a partir do consistente trabalho que vem sendo realizado pelo Instituto Ecumênico Fé e Política.
Nas sessões temáticas através das quais foi organizado o Seminário, foram debatidos os principais problemas da vida cotidiana na Amazônia brasileira e apresentadas propostas para possíveis soluções. Tudo com a presença e a participação de secretários estaduais e municipais relacionados a cada área temática. Formando assim um consistente mapa para orientar o caminho que continua sendo trilhado pela Câmara de Culturas Ayahuasqueiras do Conselho de Cultura de Rio Branco.
Com isso, esta Câmara se tornou a primeira a propor e realizar um seminário onde foram ampliadas e amplificadas as discussões travadas no cotidiano do Conselho de Cultura. Desde então, outras Câmaras mais ativas (arte-educação, musica, literatura, indígenas, etc.), estão seguindo o exemplo e vêm preparando ou realizando uma série de seminários que esperamos ser um passo decisivo na construção do nosso Plano de Cultura, próximo e desafiador objetivo.




Sessão da Assembléia Legislativa que concedeu o titulo de cidadão acreano aos Mestres Irineu, Daniel e Gabriel, ao final do Seminário da Ayahuasca. (Fonte: Agencia de Noticias do Acre)




Por outro lado, o Seminário das Culturas Ayahuasqueiras Tradicionais foi o primeiro grande desafio de discussão pública, sem intermediação direta do estado, auto-regulada e conduzida pelas próprias comunidades, aberta aos diversos centros religiosos da ayahuasca com todas as suas diferenças e divergências. Mas, talvez não por acaso, desde então, centros irmãos, que já haviam perdido muito tempo se desentendendo, por vezes de forma justificada, outras tantas não, agora estão falando e agindo como parte de um mesmo sentido. E isso faz uma grande diferença porque prova que o consenso (ou a pactuação política) até aqui alcançado, não só é real, como está proporcionando novas ações conjuntas, algumas inesperadas e surpreendentes, como a recente reforma coletiva (ou em “adjunto”, como se diz por aqui) do Tumulo de Mestre Irineu, no Alto Santo.

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