(ou “Eu vejo o futuro repetir o passado.”)
Há quem possa pensar que pesquisas arqueológicas na Amazônia tratam apenas de ciência e só interessa à Academia ou às publicações especializadas. Ledo engano, apesar das aparências, a realidade revela que, através da arqueologia, estamos tratando de importantes questões sociais e políticas.
Há quem possa pensar que pesquisas arqueológicas na Amazônia tratam apenas de ciência e só interessa à Academia ou às publicações especializadas. Ledo engano, apesar das aparências, a realidade revela que, através da arqueologia, estamos tratando de importantes questões sociais e políticas.
Recentemente a mídia carioca foi assaltada por um fato inusitado. Em plena Região Oceânica de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, uma das regiões mais valorizadas do litoral carioca, um grupo de índios Guarani Mbyá ocupou um antigo sítio arqueológico na praia de Camboinhas, com a alegação de que se tratava de milenar território tradicional indígena.
O problema é que os moradores do chicoso condomínio de classe média que ocupa a faixa de areia entre a lagoa de Itaipu e a praia não gostou nada nada de ver aqueles índios maltrapilhos ocupando sua praia. Por diversos motivos.
Em primeiro lugar porque o sítio arqueológico Duna Pequena de Camboinhas não é único da região. Do outro lado do canal o grandioso sítio da Duna Grande de Itaipu, um dos mais importantes e menos estudados sítios pré-históricos e nosso litoral, segue sendo lentamente degradado pela intervenção humana diante da completa inércia dos órgãos municipal, estadual e nacional de proteção de nosso patrimônio cultural.
Em segundo lugar porque a presença indígena na área do sítio arqueológico passou a atrair a atenção de um novo publico indesejável, sob a ótica dos moradores e especuladores imobiliários da Região Oceânica, é claro. Um público constituído por antropólogos, pesquisadores, jornalistas, militantes da causa indígena e/ou dos direitos humanos e curiosos em geral.
E, em terceiro e mais importante lugar, porque uma possível retomada indígena, ainda que muito lenta e pouco numerosa, de um trecho qualquer do litoral carioca, por menor que seja, se constitui numa séria ameaça ao enlouquecido e acelerado processo de urbanização de uma das áreas mais valorizadas de Niterói. Território fértil para grileiros e especuladores que, por exemplo, não tem o menor escrúpulo em aterrar as margens da bela lagoa de Itaipu em sua ânsia incontida de construir mais e mais casas da noite para o dia.
O resultado não poderia ser outro. Conflito entre os moradores, autoridades e indígenas. Até que depois de diversas ameaças feitas por homens armados, supostamente a mando dos “donos do pedaço”, a aldeia foi criminosamente incendiada ferindo um homem e uma criança Guarani.Neste ponto da crise foi necessária a intervenção qualificada de pesquisadores de diversas universidades e, especialmente, do historiador Bessa Freire (um bom e antigo amigo do Acre, e que de quebra ainda colabora com o Blog do Altino semanalmente) da UFF.E ele, com sua reconhecida competência, lembrou às autoridades que as terras de Niterói foram legadas à Araribóia, grande cacique da Confederação dos Tamoios, como prêmio pela expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Episódio ocorrido ainda no século XVI em benefício dos portugueses, que levaram a fama e o Brasil pela vitória dos índios. Um fato facilmente comprovado pelos Laudêmios (imposto especial pago pelos moradores de Niterói por estarem ocupando terras indígenas.) arrecadados pela Prefeitura de Niterói até muito pouco tempo.
E apesar disso tudo ter acontecido em 2008, ainda hoje a situação permanece pendente. Os Guarani fundaram na Duna Pequena de Camboinhas a Aldeia Tekoá Mboy Ty e tocam sua vida, mesmo contra quase todos. Como revela notícia recentemente publicada.
“A permanência em Niterói é controversa. É alvo de ações na Justiça, explicou o técnico da Funai. Há uma pressão enorme para que os índios saiam. Estamos lidando contra a especulação imobiliária, a Procuradoria da União e o Ministério Público, que quer a desocupação do terreno, área de Marinha”.Com esse pequeno exemplo, tomado de outra região do Brasil, para evitar análises e opiniões por demais apaixonadas, resta evidenciado o absurdo da afirmação feita na imprensa local, por ocasião do anuncio das ultimas pesquisas arqueológicas no Acre, de que a discussão dos chamados “geoglífos” agora não é mais local e sim mundial.
O caso dos Guarani de Camboinhas é apenas reflexo do desenvolvimento extremo de uma condição histórica em uma região na qual os índios foram exterminados e o que sobrou desses povos continua estigmatizado e destituído de seus direitos legais. Se tomarmos a realidade acreana, vamos ver que esta é ainda muito mais complexa devido ao fato de termos quinze diferentes etnias indígenas, sem contar as três ou quatro etnias dos isolados. Fica evidente assim que, aqui no Acre, a questão da pesquisa arqueológica ou é local por princípio, ou não será nada, porque estará condenada a apenas repetir esse triste padrão histórico de desprezo e massacre de povos indígenas que assola a consciência brasileira e mundial. Além do que é óbvio que estou abordando apenas um dos aspectos dentre os muitos outros relacionados à pesquisa científica na Amazônia.
Nesse nosso conturbado tempo não cabem mais arcaicas idéias de neutralidade científica ou de predomínio dos interesses mundiais sobre os locais. Se dependesse dessa lógica a Amazônia já tinha sido internacionalizada, discussão aqui mencionada sem nenhum traço de xenofobia barata. Da mesma forma que é inaceitável que, mesmo em tempos de pretensa e dúbia globalização, qualquer pesquisa ignore a produção científica local, porque será totalmente dissociada das especificidades acreanas, já que o Acre, felizmente, não é igual a nenhum outro lugar no mundo.Que fique bem claro. Não estou aqui advogando que qualquer pesquisador seja obrigado a exercer uma militância política em relação à questão indígena, ou à qualquer outra causa social acreana. Mas não posso deixar de esperar que toda e qualquer pesquisa científica aqui realizada tenha, no mínimo, compromisso com a sociedade local.
Ou, dito de outra forma, ainda que os geoglífos sejam manchete todas as semanas nas principais revistas e publicações nacionais e estrangeiras, nada resultará de bom se essa ação não incluir preocupação e responsabilidade com as questões locais. Até porque a história acreana já provou inequivocamente que se divulgação na mídia internacional fosse garantia de alguma coisa, certamente Chico Mendes e outros acreanos não teriam sido assassinados ao longo de nossa história.
O problema é que os moradores do chicoso condomínio de classe média que ocupa a faixa de areia entre a lagoa de Itaipu e a praia não gostou nada nada de ver aqueles índios maltrapilhos ocupando sua praia. Por diversos motivos.
Em primeiro lugar porque o sítio arqueológico Duna Pequena de Camboinhas não é único da região. Do outro lado do canal o grandioso sítio da Duna Grande de Itaipu, um dos mais importantes e menos estudados sítios pré-históricos e nosso litoral, segue sendo lentamente degradado pela intervenção humana diante da completa inércia dos órgãos municipal, estadual e nacional de proteção de nosso patrimônio cultural.
Em segundo lugar porque a presença indígena na área do sítio arqueológico passou a atrair a atenção de um novo publico indesejável, sob a ótica dos moradores e especuladores imobiliários da Região Oceânica, é claro. Um público constituído por antropólogos, pesquisadores, jornalistas, militantes da causa indígena e/ou dos direitos humanos e curiosos em geral.
E, em terceiro e mais importante lugar, porque uma possível retomada indígena, ainda que muito lenta e pouco numerosa, de um trecho qualquer do litoral carioca, por menor que seja, se constitui numa séria ameaça ao enlouquecido e acelerado processo de urbanização de uma das áreas mais valorizadas de Niterói. Território fértil para grileiros e especuladores que, por exemplo, não tem o menor escrúpulo em aterrar as margens da bela lagoa de Itaipu em sua ânsia incontida de construir mais e mais casas da noite para o dia.
O resultado não poderia ser outro. Conflito entre os moradores, autoridades e indígenas. Até que depois de diversas ameaças feitas por homens armados, supostamente a mando dos “donos do pedaço”, a aldeia foi criminosamente incendiada ferindo um homem e uma criança Guarani.Neste ponto da crise foi necessária a intervenção qualificada de pesquisadores de diversas universidades e, especialmente, do historiador Bessa Freire (um bom e antigo amigo do Acre, e que de quebra ainda colabora com o Blog do Altino semanalmente) da UFF.E ele, com sua reconhecida competência, lembrou às autoridades que as terras de Niterói foram legadas à Araribóia, grande cacique da Confederação dos Tamoios, como prêmio pela expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Episódio ocorrido ainda no século XVI em benefício dos portugueses, que levaram a fama e o Brasil pela vitória dos índios. Um fato facilmente comprovado pelos Laudêmios (imposto especial pago pelos moradores de Niterói por estarem ocupando terras indígenas.) arrecadados pela Prefeitura de Niterói até muito pouco tempo.
E apesar disso tudo ter acontecido em 2008, ainda hoje a situação permanece pendente. Os Guarani fundaram na Duna Pequena de Camboinhas a Aldeia Tekoá Mboy Ty e tocam sua vida, mesmo contra quase todos. Como revela notícia recentemente publicada.
“A permanência em Niterói é controversa. É alvo de ações na Justiça, explicou o técnico da Funai. Há uma pressão enorme para que os índios saiam. Estamos lidando contra a especulação imobiliária, a Procuradoria da União e o Ministério Público, que quer a desocupação do terreno, área de Marinha”.Com esse pequeno exemplo, tomado de outra região do Brasil, para evitar análises e opiniões por demais apaixonadas, resta evidenciado o absurdo da afirmação feita na imprensa local, por ocasião do anuncio das ultimas pesquisas arqueológicas no Acre, de que a discussão dos chamados “geoglífos” agora não é mais local e sim mundial.
O caso dos Guarani de Camboinhas é apenas reflexo do desenvolvimento extremo de uma condição histórica em uma região na qual os índios foram exterminados e o que sobrou desses povos continua estigmatizado e destituído de seus direitos legais. Se tomarmos a realidade acreana, vamos ver que esta é ainda muito mais complexa devido ao fato de termos quinze diferentes etnias indígenas, sem contar as três ou quatro etnias dos isolados. Fica evidente assim que, aqui no Acre, a questão da pesquisa arqueológica ou é local por princípio, ou não será nada, porque estará condenada a apenas repetir esse triste padrão histórico de desprezo e massacre de povos indígenas que assola a consciência brasileira e mundial. Além do que é óbvio que estou abordando apenas um dos aspectos dentre os muitos outros relacionados à pesquisa científica na Amazônia.
Nesse nosso conturbado tempo não cabem mais arcaicas idéias de neutralidade científica ou de predomínio dos interesses mundiais sobre os locais. Se dependesse dessa lógica a Amazônia já tinha sido internacionalizada, discussão aqui mencionada sem nenhum traço de xenofobia barata. Da mesma forma que é inaceitável que, mesmo em tempos de pretensa e dúbia globalização, qualquer pesquisa ignore a produção científica local, porque será totalmente dissociada das especificidades acreanas, já que o Acre, felizmente, não é igual a nenhum outro lugar no mundo.Que fique bem claro. Não estou aqui advogando que qualquer pesquisador seja obrigado a exercer uma militância política em relação à questão indígena, ou à qualquer outra causa social acreana. Mas não posso deixar de esperar que toda e qualquer pesquisa científica aqui realizada tenha, no mínimo, compromisso com a sociedade local.
Ou, dito de outra forma, ainda que os geoglífos sejam manchete todas as semanas nas principais revistas e publicações nacionais e estrangeiras, nada resultará de bom se essa ação não incluir preocupação e responsabilidade com as questões locais. Até porque a história acreana já provou inequivocamente que se divulgação na mídia internacional fosse garantia de alguma coisa, certamente Chico Mendes e outros acreanos não teriam sido assassinados ao longo de nossa história.
Observação especial:
Sem querer misturar as coisas, mas já misturando. Não posso deixar passar em branco esse dia dois de agosto, aniversário da mulher com quem compartilho todos os meus dias e os bens mais preciosos que tenho nesta vida: João, Yago e Vinicius.
E se todas as forças do universo
Conspiram a nosso favor
Há dez anos...
Não há porque duvidar
Que irão ainda conspirar
pelos próximos dez, cem, mil anos...
E se existe amor assim tão amplo
que nos contenha por inteiro,
Então dez dias serão suficientes
Para fazer uma revolução em mim...
Pra ti...
Sem querer misturar as coisas, mas já misturando. Não posso deixar passar em branco esse dia dois de agosto, aniversário da mulher com quem compartilho todos os meus dias e os bens mais preciosos que tenho nesta vida: João, Yago e Vinicius.
E se todas as forças do universo
Conspiram a nosso favor
Há dez anos...
Não há porque duvidar
Que irão ainda conspirar
pelos próximos dez, cem, mil anos...
E se existe amor assim tão amplo
que nos contenha por inteiro,
Então dez dias serão suficientes
Para fazer uma revolução em mim...
Pra ti...
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