Até os cinco anos de idade tenho guardadas em minha memória apenas rápidas cenas de lugares e pessoas que nem chegam a constituir propriamente lembranças, mas vagas impressões de um mundo que era gigantesco frente aos meus pequenos olhos.
De verdade mesmo minha memória (individual e coletiva) começa com a Copa de 70. Afinal, como não lembrar daquela seleção que tinha Pelé, Rivelino, Gérson (o canhotinha de ouro), Tostão e outros tantos craques inesquecíveis. Como não lembrar daquelas musicas que enchiam nossos rádios, televisões, casas e ruas com refrões que grudavam nos ouvidos: “Todos juntos vamos, Pra frente Brasil, Brasil, Salve a Seleção.” Como não lembrar das ruas cheias de gente enlouquecida depois do Brasil ter se tornado o primeiro tricampeão da história do futebol mundial e o definitivo dono da taça Jules Rimet. Atestado daquilo que a Ditadura Militar não cansava de repetir: “Este é um país que vai pra frente!” Mas eu era apenas um menino de 7 anos e não compreendia ainda a face perversa dos anos de chumbo.
Desde então sou capaz de contar toda minha vida através das Copas do Mundo. Desde a falácia de ser o campeão moral com a seleção de Coutinho; passando pela extraordinária magia daquela seleção de Tele Santana, em 82, que parecia jogar por musica com Zico, Falcão, Sócrates e outros imortais do nosso futebol; até aquele confuso sentimento, meio triste, meio feliz, da seleção de Parreira, campeã, mas dona do futebol mais feio que o Brasil já jogou em toda sua história.
E, em meio a todas essas memórias, carrego seus complementos naturais e pessoais, a primeira namorada, os tempos e amigos da faculdade, a campanha das Diretas Já, a tragédia anunciada do Collor e, mais tarde, a eleição do Lula e a vitória da esperança sobre o medo.
Isso tudo me voltou a cabeça neste 11 de junho, com o início da Copa do Mundo da África do Sul. Impossível não se emocionar com a alegria dos africanos, sua dança, seus ritmos, suas buzinas e seu evidente sentimento de um novo tempo nesta África tão massacrada e expropriada nos últimos séculos pelo Ocidente.
Assim como é impossível evitar essa sensação de que há mesmo algo de sagrado neste ritual travestido de esporte que é o futebol. Afinal, a humanidade é dada a demarcar sua existência através de rituais que ciclicamente mobilizam a todos seus integrantes. Sempre foi assim. Neanderthais, egípcios, gregos, maias, astecas, chineses, europeus, todos os povos da longa história da humanidade inventaram uma ou outra maneira de celebrar o que de sagrado existe em nós. E não tenho duvida que em nossa globalizada sociedade pós-moderna o futebol, em sua máxima expressão que é a Copa, assume, como nenhuma outra manifestação coletiva contemporânea, essa função.
Como não há duvida de que esta é uma Copa muito especial. Quando não fosse por mais nada, porque marca o encontro dessa magistral arte inventada pelos nossos índios americanos (porque esse papo de que foram os ingleses é furado, mas esse é outro assunto e infelizmente não vai dar pra falar disso hoje), com esse continente ancestral onde surgiu toda a humanidade. Encontro admiravelmente representado pelo jogo entre o México e a África do Sul.
Porque, afinal, está sendo bonito de ver novamente o futebol encantando e levando o povo pras ruas como só as coisas mais simples e verdadeiras são capazes de fazer. Um povo simples que apenas canta sua própria beleza e essa preciosa liberdade recém conquistada ao sul da África. Cantos de alegria e liberdade que, rogo aos Deuses do Futebol, espero ver, ainda nessa vida, se estender por toda Mama África.
Enfim, o certo é que, mesmo com o empate do México, o golaço de Shabalala lavou nossa alma... e só isso já seria o bastante para não mais esquecer.
De verdade mesmo minha memória (individual e coletiva) começa com a Copa de 70. Afinal, como não lembrar daquela seleção que tinha Pelé, Rivelino, Gérson (o canhotinha de ouro), Tostão e outros tantos craques inesquecíveis. Como não lembrar daquelas musicas que enchiam nossos rádios, televisões, casas e ruas com refrões que grudavam nos ouvidos: “Todos juntos vamos, Pra frente Brasil, Brasil, Salve a Seleção.” Como não lembrar das ruas cheias de gente enlouquecida depois do Brasil ter se tornado o primeiro tricampeão da história do futebol mundial e o definitivo dono da taça Jules Rimet. Atestado daquilo que a Ditadura Militar não cansava de repetir: “Este é um país que vai pra frente!” Mas eu era apenas um menino de 7 anos e não compreendia ainda a face perversa dos anos de chumbo.
Desde então sou capaz de contar toda minha vida através das Copas do Mundo. Desde a falácia de ser o campeão moral com a seleção de Coutinho; passando pela extraordinária magia daquela seleção de Tele Santana, em 82, que parecia jogar por musica com Zico, Falcão, Sócrates e outros imortais do nosso futebol; até aquele confuso sentimento, meio triste, meio feliz, da seleção de Parreira, campeã, mas dona do futebol mais feio que o Brasil já jogou em toda sua história.
E, em meio a todas essas memórias, carrego seus complementos naturais e pessoais, a primeira namorada, os tempos e amigos da faculdade, a campanha das Diretas Já, a tragédia anunciada do Collor e, mais tarde, a eleição do Lula e a vitória da esperança sobre o medo.
Isso tudo me voltou a cabeça neste 11 de junho, com o início da Copa do Mundo da África do Sul. Impossível não se emocionar com a alegria dos africanos, sua dança, seus ritmos, suas buzinas e seu evidente sentimento de um novo tempo nesta África tão massacrada e expropriada nos últimos séculos pelo Ocidente.
Assim como é impossível evitar essa sensação de que há mesmo algo de sagrado neste ritual travestido de esporte que é o futebol. Afinal, a humanidade é dada a demarcar sua existência através de rituais que ciclicamente mobilizam a todos seus integrantes. Sempre foi assim. Neanderthais, egípcios, gregos, maias, astecas, chineses, europeus, todos os povos da longa história da humanidade inventaram uma ou outra maneira de celebrar o que de sagrado existe em nós. E não tenho duvida que em nossa globalizada sociedade pós-moderna o futebol, em sua máxima expressão que é a Copa, assume, como nenhuma outra manifestação coletiva contemporânea, essa função.
Como não há duvida de que esta é uma Copa muito especial. Quando não fosse por mais nada, porque marca o encontro dessa magistral arte inventada pelos nossos índios americanos (porque esse papo de que foram os ingleses é furado, mas esse é outro assunto e infelizmente não vai dar pra falar disso hoje), com esse continente ancestral onde surgiu toda a humanidade. Encontro admiravelmente representado pelo jogo entre o México e a África do Sul.
Porque, afinal, está sendo bonito de ver novamente o futebol encantando e levando o povo pras ruas como só as coisas mais simples e verdadeiras são capazes de fazer. Um povo simples que apenas canta sua própria beleza e essa preciosa liberdade recém conquistada ao sul da África. Cantos de alegria e liberdade que, rogo aos Deuses do Futebol, espero ver, ainda nessa vida, se estender por toda Mama África.
Enfim, o certo é que, mesmo com o empate do México, o golaço de Shabalala lavou nossa alma... e só isso já seria o bastante para não mais esquecer.
Pra quem realmente curte o futebol é impossível ñ se identificar com esse enredo pra lá de historiografico! Alguém sussura no canto:"esse chefe eh foda". :D
ResponderExcluirVamos ver se antes do final da Copa dá tempo de contar sobre os indios Cacharari (aqui na fronteira com Rondonia) que inventaram, na verdade, o futebol, mais tarde pirateado por um ingles que acabou sendo comido pelos Apurinãs(no sentido literal e não do jeito que você pensou, cara pálida)...
ResponderExcluirmv