sábado, 3 de abril de 2010

A pedidos...

Mesmo com uma semana de atraso, lá vai...
Antes tarde do que tarde demais...

“O Livro das Mutações contém a medida do céu e da terra; por isso ele possibilita a compreensão do Tão do céu e da terra.
No livro se encontram as formas e os domínios de todas as configurações no céu e na terra, de modo que nada lhe escapa. Nele todos os seres se completam e nenhum lhe falta. Por isso, por seu intermédio, podemos penetrar o Tão do dia e da noite, de modo a compreende-lo. O espírito, portanto, não está vinculado a nenhum lugar específico, nem o Livro das Mutações a qualquer forma em particular.”(I Ching, o Livro das Mutações, Págs. 228 e 229)


Peço desculpas aos improváveis leitores desta coluna pelas duas ultimas semanas de ausência por aqui. Mas o tempo não para e as coisas, às vezes, acocham... Afinal, também preciso ganhar o pão de cada dia... Aliás, ôôôô tempinho agitado esse...


Botija de Histórias
“É chamado de caçador marupiara, aquele homem de sorte em suas caçadas que, além de profissional, conhece os mistérios da caça.
O Marupiara, quando anda na mata e vê muitos vestígios de caça grande, não atira para não espantar outras maiores. A caça grande é a anta, o caititu, o veado e outros. A caça miúda, ou seja, a embiara, o Nambu, Jacu, a Cutia e assim por diante.
Para alguns caçadores profissionais, panema, azar, tudo isso não passa de ilusão.
O caçador experiente, quando demora a matar a caça, não desanima, porque ele sabe que nem todo dia é dia de caça. A vezes, o caçador a procura para um lado e ela está pra outro bem diferente.
Também, o caçador, quando faz suas boas caçadas, dá carne de caça a quem quer que seja e não atinge moleza. Até parece dar sorte.
Por outro lado, sabe-se que existem mistérios, mas nem tanto como alguns pensam. Para ser bom caçador, tem que seguir a seguinte regra: não ter medo de onça; conhecer a mata; ter paciência e conhecer os mistérios da caça.”
In Hélio Melo – A experiência do caçador e os mistérios da caça – do seringueiro para o seringueiro; Rio Branco, 1996; pág. 10



Inter ativa
Agradeço aos comentários e sugestões dos leitores ao ultimo artigo desta coluna. E conforme prometido vou tentar atender aos seus pedidos e questionamentos. Portanto, nesta e nas próximas semanas vou tentar trazer pra cá algumas “histórias de seringal” conforme pedido por Kellen Maria.
Quanto à pergunta do Valdo: “Porque a igreja católica não divulga a Nossa Senhora da Seringueira?”
O que posso dizer é o seguinte... Se olharmos com atenção a trajetória da Igreja católica no Acre poderemos perceber que sua estratégia consistiu em aceitar os santos e mártires de devoção local. Condição, por exemplo, do São João do Guarani, da Santa Raimunda do Bonsucesso e tantos outros espalhados pelos seringais e cidades acreanas. Ou seja, a Igreja, oficialmente, fazia vista grossa às manifestações de fé a esses santos populares, sem reconhecê-los, mas também sem negá-los explicitamente. O que, convenhamos, era uma estratégia inteligente.
Ao mesmo tempo, entretanto, a Igreja tratava de importar Santos de origem européia tentando com isso estabelecer uma gradativa substituição ou sublimação da fé do povo em favor de seus preceitos tradicionais. O próprio Bispo Dom Joaquim Pertinez trata desse assunto em seu livro “História da Diocese de Rio Branco”, afirmando que “Ao chegarem ao Acre, os padres trouxeram toda a bagagem do catolicismo romano. (...) achavam que o catolicismo brasileiro fosse muito bagunçado. (...) não tendo na devida conta a experiência secular do catolicismo do povo. (...) Os santos de devoção italiana, começaram a tomar o lugar dos santos do povo(...) Estes santos, começaram até fazer mais milagres, sobretudo São Filipe e São Peregrino, que ganharam de São Sebastião e São Francisco (...)”(págs. 159, 160 e 161)
Mas, o mesmo Bispo Dom Joaquim, com muita coerência, aliás, ressalta que essa prática não foi assimilada sem reações da população e cita um dos muitos casos que tiveram lugar em diversas partes do, então, Território Federal do Acre: “(...) o povo de Sena Madureira não ficou conformado, afinal a imagem de São Peregrino estava ocupando o lugar central do Altar Mor, enquanto a de Nossa Senhora tinha sido rebaixada num altar lateral. Assim durante a noite a estátua do novo santo, que por sinal pesava mais de cem quilos, foi colocada por vinte homens no altar lateral e a de Nossa Senhora no Altar Mor. Os padres chamaram a polícia para verificar o acontecido que eles não teriam possibilidade de explicar. Só no dia seguinte, uma carta assinada ‘a união dos vinte’ procurava dar esclarecimentos sobre o gesto, pois o novo santo, recém chegado, não poderia ocupar o primeiro lugar na igreja.” (pág.161)
Portanto, no caso da N. S. do Acre e também da N.S. da Seringueira, penso que temos casos similares aos descritos acima. Por outro lado, me parece que desde os anos 80, a situação começou a mudar e diferentes manifestações da fé popular, voltaram a ser valorizadas pela igreja, como conseqüência de teologia da libertação e sua “opção pelos pobres”. E, mais recentemente, o trabalho de restauração e musealização do histórico quadro da N.S. da Seringueira empreendido conjuntamente pela Diocese de Rio Branco, Governo do Estado e Prefeitura revela um processo de valorização do Patrimônio Histórico e Cultural acreano. No qual se inserem também outras ações, como a realização de pesquisas, edição de livros sobre a história da Igreja no Acre e as obras realizadas na Catedral N.S.de Nazaré.

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