domingo, 22 de maio de 2011

A solidão por condição

Esta semana uma imagem publicada na net, se juntou com um filme que assisti há pouco tempo e “pirou meu cabeção”, como diria Dona Luci. A Nasa divulgou que existem planetas que não orbitam nenhuma estrela, apenas vagam pelo espaço, sem destino, sem direção...

A surpreendente noticia de planetas solitários, vagando incertos pelo espaço sideral (nunca mais tinha ouvido ou escrito essa coisa de “sideral”, parece que saiu de moda, porque hem?), me fez lembrar de uma poesia que li, há muitos anos, na abertura de um dos livros de Castañeda e que recentemente foi citada por Toinho Alves em seu blog, que anda há tempos parado exatamente neste ponto.

“Cinco são as condições do pássaro solitário:
A primeira, que ele voe ao ponto mais alto;
A segunda, que não anseie por companhia - nem de sua própria espécie;
A terceira, que dirija seu bico para o céu;
A quarta, que não tenha uma cor definida e
A quinta, que tenha um canto muito suave.”
(San Juan de la Cruz)


Lembro que, certa vez, tive uma discussão acirrada com um dos meus gurus revolucionários da época de faculdade, por conta do verso desta poesia que diz que o pássaro solitário não deve ter uma cor definida. Ele se pegou nesta frase para desqualificar todo o resto. Naquela ocasião me pareceu que ele não havia refletido direito sobre a incoerência inerente a qualquer ato ou desejo de solidão. Perdi então grande parte da admiração que tinha por ele.
Mas, em compensação, fiquei mais apaixonado ainda pelos livros de Castañeda, cujo mestre Dom Juan Matos não cansava de explicar que todo e qualquer ser vivente sobre a terra está irremediavelmente só em sua caminhada rumo ao desconhecido, ao infinito.
No máximo, a única companhia que verdadeiramente desfrutamos ao longo de toda a vida é de nossa própria morte. Ter consciência que ela está sempre ao nosso lado e que pode nos tocar a qualquer momento é o preço a ser pago para conquistarmos a sobriedade e a possibilidade de superação da auto-piedade (tantas vezes travestida como vaidade, egoísmo e outros vícios equivalentes).
Ai, pra completar, passou na TV (e tem na locadora pra assistir, o que recomendo) um filme surpreendente chamado “Na natureza selvagem” que conta a história de um jovem homem que busca intensamente a liberdade que só a solidão por vezes parece ser capaz de nos conferir... até que ao final descobre que...
Não. Não vou contar o fim do filme, senão é sacanagem... assistam...
Mas, cuidado, há coisas que: se nos tocam, nos transformam irremediavelmente. E elas podem, a qualquer momento, nos alcançar de muitas maneiras distintas, através de um livro, um filme, uma poesia, uma imagem, uma palavra amiga, um acontecimento inesperado, um gesto de carinho. Vai saber...




O certo é que ninguém sabe ao certo porque existem esses planetas solitários, e nem o que os faz ser assim... eles são assim e ponto final...

2 comentários:

  1. Excelente Filme esse... daqueles que continuam reproduzindo na cabeça durante uma semana inteira, no mímino..ah! assiste também o "A origem". e escreve aki.. abs

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  2. não sei do filme, mas as suas devagações sem órbitas foram interessantes!

    estilo um pouco diferente do que estou acostumado em suas palavras, mas ainda assim muito interessante.

    de certo perspectiva, até meio macabro pensar que nossa mais fiel companhia é a morte.

    mas lembremos que "é morrendo que se vive para a vida eterna!".

    quase ninguém acredita quando digo não temer a morte. O que há de mal nisso?? Compreensível é querer ficar aqui nessa tormenta onde "o que eu quero, não faço; e aquilo que não quero, isso sim eu faço." (São Paulo).


    há-braços meu querido!

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