Diz o ditado popular que santo de casa não faz milagre. Uma homenagem como a que aconteceu na terça-feira no histórico Cine-teatro Recreio desmente essa “verdade” ao valorizar o que o Acre tem de melhor: pessoas que fizeram das dificuldades da vida um infinito universo de possibilidades. A seguir o texto de abertura da cerimônia.
Eurilinda Figueiredo interpretando o texto de abertura da cerimonia - foto Val Fernandes
Senhoras e Senhores..., Sejam todos bem vindos esta noite...
Talvez não exista no mundo outra terra
mais misteriosa ou surpreendente que o Acre.
Quando menos se espera é daí mesmo que sai
o que ninguém seria capaz de supor...
Pois nossa história de hoje é bem assim mesmo...
Surpreendente e, de certa forma, talvez, mágica...
Voltemos então no tempo... até os idos de 1930...
só pra lembrar como tudo se deu...
Eram anos tristes aqueles...
A borracha não tinha mais preço. Muitos seringais fecharam... outros se apequenaram pra sobreviver. Muita gente foi embora pra nunca mais voltar... outros ficaram de teimosos que eram...
O governo brasileiro não queria nem saber do Acre. Se havia sido assim antes, quando o Acre ainda dava dinheiro, imagina agora que só dava prejuízo pra Capital, o longínquo Rio de Janeiro...
Mas..., como se diz nas mais velhas histórias... É no lodo apodrecido dos pântanos, dos igapós, que surgem as mais belas flores... sejam elas flores de Lótus, sejam Vitórias Régias... É assim que é... sabedoria antiga...
O personagem Raimundo Doido que anunciava os filmes do Cine Recreio (aqui interpretado por Ivan de Castela) - foto Val fernandes
Pois foi assim que, em 1934, surgiu uma pequena alegria no horizonte acreano... Os novos ares da Revolução de Getúlio finalmente chegavam por aqui e os acreanos pela primeira vez experimentariam o doce sabor da democracia elegendo deputados para falar por nós lá na distante capital... E... neste mesmo ano nasceria por aqui um menino que tantas alegrias ainda nos daria...
Mais um ano, 35, e seria a vez da menina que estamos homenageando hoje chegar a esse mundo acreano, lá no antigo seringal São Luiz do Remanso... pra logo vir pra cá, pra cidade, pro Quinze, pra crescer e frutificar...
E nem bem o mundo mudava, em plena convulsão da nova grande guerra que chegava, numa quarta feira de dezembro de 39, vinha a um Acre, novamente rico por sua borracha, o terceiro de nossos ilustres homenageados, o ultimo a chegar, mas justamente aquele que seria encarregado de nos contar o que viu desde então...
Portanto, Senhoras e Senhores, sem mais delongas... quero dizer que esta noite aqui estamos pra falar de três personagens... três filhos diletos da cidade que amamos...
Uma mulher que aprendeu e... por bem saber... vive a ensinar...
Um homem que sabia escrever e... com que arte e alegria nos descreveu...
Outro homem que traz a musica dentro de si e... por isso toca... e como nos toca...
Os tres homenageados - João Donato, Guajarina Margarido e Artur Leite, representando seu pai Zé Leite - foto Adonay Melo
E por falar em musica... não sabemos, na verdade, se estes três personagens se conheceram de fato... Mas certamente estiveram juntos muitas vezes, ainda que não soubessem uns dos outros. Afinal, não havia muita coisa pra se fazer em Rio Branco naqueles idos dos anos quarenta em que cresceram e se tornaram gente...
É que aos domingos, na praça, sempre havia uma retreta bem executada pela Banda da Guarda Territorial e sou capaz de jurar que por lá eles se encontraram... num dia qualquer de suas vidas... e como estamos aqui pra lembrar... pedimos que a Banda da Policia Militar, descendente direta daquela outra da Banda da Guarda..., nos lembrem... quem sempre fomos e... orgulhosamente, com nossos pés rachados, ainda somos...
(Neste momento a Banda da PM executou o Dobrado Capitão João Donato e, logo em seguida o Hino Acreano)
OBS: Ah sim! E para quem não pôde ir à cerimônia, mas gostaria de ter ido, aviso que a TV Aldeia, que transmitiu o evento ao vivo para todo o Estado do Acre, promete exibir uma reprise na próxima terça-feira (17/01), às 21 horas.